Aqueles dois



"Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra.”

Este fragmento descrito no conto “Aqueles Dois”, pelo autor paulista Caio Fernando de Abreu, ganhou novas vestimentas no espetáculo apresentado pelo grupo Lunna Lunera nos dias 27. 28, e 29 de março na Escola de Teatro Livre “Pontapé” em Uberlândia.
O espetáculo foi produzido a partir do conto homônimo de Caio Fernando de Abreu; no qual ele descreve a rotina de uma repartição publica, considerada como um “deserto de almas”, e a relação de cumplicidade entre dois personagens despertando incomodo nos demais presentes naquela repartição.Entre um cafezinho e outro Raul e Saul, personagens vividos por quatro atores na peça vão se aproximando pouco a pouco.O texto é abordado com simplicidade na interpretação do grupo Lunna Lunera.
A montagem da peça foi constituída com citações fragmentadas de Caio Fernando, utilizando jogos corporais entre os atores e iluminação para substituir as palavras, quando elas não eram mais necessárias para expressar o sentimento de solidão dos personagens, perdidos em uma repartição burocrática. Entre livros, maquina de escrever, discos de vinis, os personagens da peça se identificavam e se permitiam vivenciar momentos de companheirismo e cumplicidade.
“Que mais restava aqueles dois senão se aproximarem, se conhecerem e se misturarem?” Audacioso, o espetáculo sensibilizou a platéia para uma historia singela, uma relação delicada, que reflete a solidão vivenciada por dois homens enclausurados na rotina e na mediocridade de uma repartição.

Pros filhos deste solo, és mãe gentil?


10 de Junho. Jogo do Brasil contra o Paraguai. Milhões de Brasileiros se emocionam com a execução do hino nacional brasileiro.
No mesmo dia, é anunciado que o Brasil deverá emprestar ao Fundo Monetário Internacional (FMI) US$20 bilhões de dólares para o financiamento de uma reserva internacional.
De acordo como presidente LULA se anteriormente, quando ele ainda não havia sido eleito, ele e milhares de manifestantes gritavam pelas ruas com uma faixa “fora FMI”, hoje ele se orgulha do país estar em condições de ao invés de pegar dinheiro emprestado, emprestar dinheiro ao fundo monetário internacional.
Creio que o país “das maravilhas” em que o senhor presidente reside não é o mesmo que estamos vivendo. De acordo com o IBGE mais de quatro milhões de crianças trabalham antes do 16 anos no Brasil. Para controlar este fato, o ministério da educação tem distribuído cartilhas explicando o quanto o trabalho infantil é prejudicial. Acredita-se que com ações como esta, até em 2015 o trabalho infantil será erradicado do país.
De que adianta informarem que as crianças deveriam estar na escola, se para muitos pais não resta alternativa, senão colocar o filho com seu trabalho complementar as despesas domesticas para que todos não passem fome?
Enquanto o governo brasileiro propaga que o nosso país esta bem para aplicar suas reservas financeiras no FMI, presenciamos milhões de crianças que deveriam estar na escola, recebendo um ensino de qualidade, com profissionais capacitados, trabalharem para garantir o seu sustento e o da sua família.
Mediante tamanha hipocrisia, o dinheiro do contribuinte investido em um fundo internacional em vez de melhorar a educação, e reduzir as desigualdades sociais que marcam o nosso país, fica a reflexão patriota: Pros filhos deste solo és mãe gentil?

Uma cultura itinerante

Qual a fronteira geográfica da cultura nordestina?

E pensar que do norte ao Sul do Brasil se pode comer tapioca, bolo de macaxeira, dançar forro, sem para isto se sentir um “abestado”.
Imigrantes nordestinos existem por todos os lados do país, assim como existem mineiros que vivem na região sul, gaúchos que mudaram para o centro-oeste e assim por diante.
O Brasil é essa mistura de ritmos, de tempero, e de dialetos.
Mas para o povo nordestino, se ausentar da sua terra pode ser a única alternativa para escapar da fome e da miséria. Com a revolução industrial, e a urbanização do emprego, cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, tornaram-se atrativo para os nordestinos que buscavam trabalho no país. Brasília pode ser citado como exemplo de cidade construída com o auxilio desse povo guerreiro e determinado do sertão. Mas como será a vida deste povo viajante, que leva junto a sua bagagem costumes dialetos, sonhos e comportamentos peculiares?
Falar da cultura nordestina é abrir um leque de possibilidades.

Basta lembrar que historicamente ali foi à primeira região a receber influência direta dos colonizadores portugueses, e posteriormente dos escravos africanos. Com tanta mistura, é difícil definir uma tipologia cultural para os nordestinos.

A terra que anteriormente serviu de inspiração para os versos de Pedro Vaz de Caminha, nas ultimas décadas simbolizou a seca e as desigualdades sociais, a falta de oportunidade e o coronelismo que faz poucos se sustentar com a miséria de muitos.
E pensar que a miséria e a seca do nordeste brasileiro, nas mãos de um literário introspectivo, Euclides da Cunha, fizesse tamanho desamparo se tornar uma das mais belas obras da literatura brasileira: “Os sertões”.
Assim transparece que o povo nordestino faz com a sua cultura, e com o seu modo de ser. A dor do sertanejo vira canção, surge um repentista. O Frevo, a baianada, o maracatu; danças que simbolizam a alegria e espontaneidade, de quem luta pra vencer.
Mas afinal quantas faces possuem o nordeste?

Se mergulharmos na culinária nordestina, teremos peixes na área litorânea, e derivados de bovinos, caprinos e ovinos no interior dos estados; pratos feitos com carne seca em contraste aos mariscos pescados na beira do mar. Este nordeste de contraste, de muitas faces, representa o retrato de um país que tenta crescer, mas que ainda possui muita miséria e desigualdade.

Existe vários nordeste em um só. O sotaque também demonstra isso. Na Bahia de Jorge Amado, o sotaque arrastado confronta-se com o gingado léxico e espontâneo do pernambucano. E estas pequenas singularidades distintas encontram similaridade no Sul do país, uma região que apesar de distante geograficamente, possui uma similaridade linguística com o norte e o nordeste do país, a utilização frequente do pronome “tu”.
A cultura brasileira é rica!
É esta a luta dos amantes da cultura nordestina. Eles querem preservar o seu patrimônio cultural, proveniente de sua historia, e dos seus anseios.
A cultura Nordestina fala muito sobre o jeito de ser, de pensar, de uma região. Ela manifesta a dor de um povo sofrido pela escassez monetária, mas também a alegria de quem luta por um mundo melhor. E ela esta presente em diversas partes do país, porque o povo nordestino procurando alternativas para suas dificuldades, viajou por este Brasil de norte a sul, levando em sua memória e em seus costumes sua cultura e seu modo peculiar de ver o mundo e de representar sua identidade neste cenário.